quarta-feira, 12 de maio de 2010

pés descalços

Sentia os pés. Nunca antes tinha tido aquela percepção dos seus próprios pés. Hoje ela os sentia, mais do que nunca. Percebia a sensação dos pés descalços pisando o tapete meio húmido da casa de banho, e aquela sensação das plantas dos pés lhe fazia perceber onde estava.
A vida fazia sentido, mais um dia que começava, mais um banho que tomava, e mais uma vêz os pés descalços sobre o tapete.
Lembrava de quando era criança e seus pés sujos de terra corriam no passeio de concreto, trepavam em árvores, pisavam em pedras e por vezes batiam em algum degrau causando-lhe dores lancinantes que eram expressas com um simples e poderoso grito absolutamente impulsivo.
Recordava a sensação de correr, sem rumo, sem destino, mas com uma pressa de quem quer viver a vida! Sentir o ar tocar a pele do rosto, sentir os pés conduzindo-a cada vez mais longe.
Mas hoje seus pés lhe traziam para o aqui e agora, e a sensação do tapete húmido lhe lembrava o momento presente.
Teve vontade de parar o tempo, nem passado, nem futuro, nem mesmo presente. Apenas parar e permitir que a vida continuasse apesar dela.
No entanto sabia que haviam decisões a serem tomadas, responsabilidades a serem assumidas, prazeres a serem desfrutados. Todo um leque de oportunidades que se abriam naquele momento, desencadeado por aquela sensação. Mais do que nunca, sentia seus pés e eles lhe firmavam o apoio no aqui e agora.

6 comentários:

Unknown disse...

Lembro de em criança ter estreado a primeira novela e os meus pais me chamarem de Gabriela (que também é o meu segundo nome) por andar sempre descalça... Adoro essa sensação de caminhar descalça. Gostei do teu texto :)

Thiago Duarte disse...

Que lindo, Let. Muito bom!

Jo disse...

Não há nada mais arrebatador do que a simplicidade e clarividência das mais inesperadas e singelas sensações!

Gostei muito Lê!

Unknown disse...

E a singeleza é difícil de conseguir.

Parabéns!

William P. Câmara Jr. disse...

Essa sensação torna quase real a lembrança de pura liberdade da infância.
Muitas sensações resgatam experiências marcantes e esse texto caracteriza isso, pelo menos pra mim.
Adorei.
beijos
Will

La lectora disse...

Hoje vim de visita ao seu blog... vou dar uma volta pelos posts e, se te encontrar em algum deles, quem sabe tomar um mate com vc.

Beijinho desde Buenos Aires :-)