sábado, 17 de julho de 2010

A inutilidade dos prazeres

Maria é uma pessoa normal. Desde sempre foi assim, normal. Simplesmente leva a vida, ao sabor do vento, sem se preocupar muito com o rumo que esse vento a conduz; seja na forma de uma brisa ou tempestade, simplesmente vai.
Nas suas memórias de infância, era uma menina normal. Nem muito alegre, nem triste. Na adolescência idem. Nunca fora um exemplo de inteligência nem beleza, mas tampouco era feia. Simplesmente era normal. Lembrava-se dos brinquedos que havia abdicado, dos convites para namoro que tinha esperado em vão, das notas brilhantes que nunca atingira.
No entanto, isso não lhe frustrava; de forma alguma; pelo contrário… orgulhava-se de passar pela vida sem deixar marcas, como se estivesse numa dimensão paralela na qual ela observava a vida ao invés de interferir nela. Achava-se superior por não se entregar as alegrias e tristezas dos envolvimentos emocionais. Quando via alguém com raiva por perder o emprego, ou nas nuvens por encontrar um amor; ela imaginava o quão fugazes eram essas sensações, e achava-se maior por não se envolver nelas.
Mas hoje, sentia um impulso de mudança. Uma vontade de deixar de ser simplesmente Maria e transformar-se em outra pessoa.
Um convite inusitado havia surgido pela internet, um dos seus 600 amigos virtuais da rede social tinha lhe chamado para sair. Até aquele dia, a sua reacção normal seria de sair, tomar um copo e voltar para casa, achando que aquele "amigo" era só mais uma pessoa da vida, como todos, normal. Mas não hoje, sua vontade agora era outra. Hoje ela tomara uma decisão.
Sentia uma vontade enorme de sensações, gostos na sua boca; tactos na sua pele, cheiros na sua roupa. Queria sentir, queria viver. Tinha uma necessidade, quase uma fome de senasações. Queria viver. Ser.
Preparou-se com primor, passou um creme com cheiro marcante; usou maquiagem forte; vestido decotado. Estava decidida, essa noite seria sua vigança por todos os anos, meses, dias e hora nos quais tinha apenas visto a vida passar.
Pagaria a factura dessa decisão, fosse numa frustração amorosa, numa traição de amizade, ou no arrependimento por um telefonema. Mas estava preparada para a batalha da vida, agora chegava a sua vez, sem medo, como quem salta de um penhasco; atirou-se à vida, de coração aberto; de corpo e alma.


moral da história:

"há duas formas de comprovarmos a inutilidade dos prazeres:
a primeira é renunciando-os; a segunda, gozando-os." DeRose

3 comentários:

saritaborges disse...

Adorei a deliciosa narrativa!
Beijinhos :)

Lara MotaPinto disse...

Já tínhamos saudades da tua escrita e sempre um prazer não tão inútil reler-te!

Beijos

La lectora disse...

Oi querida. Segui a sua dica e vim ler o texto que vc fez. Muito bonito. Mas vc não me tinha dito que cada semana haveria um texto novo...? hehehe. Estou aguardando os próximos.
Um beijinho!